segunda-feira, 9 de abril de 2012

PERDÃO



“PERDOAR É DOAR A SI E AO OUTRO A COMPREENSÃO DE NOSSAS IMPERFEIÇÕES”




            O perdão é um prato capaz de transformar toda a amargura que existe dentro do seu ser em docilidade.



 CUSTO



            O preço maior que se paga é o de ser chamado de idiota pelos viciados em revanche e punição. No entanto, se você for forte conhecedor de seus propósitos e de si mesmo, seu investimento será extremamente rentável, pois lhe livrará definitivamente da terrível dívida que os coléricos impõem a si mesmo de terem de pagar com juros e correções eternas prestações de ódio.




TIRA GOSTO



DIABÓLICO VENENO



CULPA
DIABÓLICO VENENO
PERDÃO
SAGRADA MEDICAÇÃO
QUE O NOSSO AMOR CONVALESCENTE IMPLOROU
ENTRETANTO...
CUSPISTE VENENO
NA NOSSA FERIDA
QUE URGIA SER SUTURADA
COM A COMPREENSÃO
DE QUE NÃO SOMOS PERFEITOS
JAMAIS DILACERADA
COM ACUSAÇÕES
ÀS NOSSAS IMPERFEIÇÕES
GOLPE MORTAL
SANGROU A ÚLTIMA GOTA
DO AMOR QUE CORRIA
PELAS VEIAS DO MEU SER
NECROZANDO SENTIMENTOS VÍVIDOS
JAMAIS RESSUSSITADOS
SENTIDOS


INGREDIENTES




Fubá da compreensão
Farinha da tolerância
Doce paciência
Ovos de autoconhecimento
Humildade amanteigada
Pó de Crescimento pessoal



PREPARO



            Você sabe como se prepara uma broa? A broa é preparada com o leite que azedou. O perdão é também preparado com aquele produto mais azedo e amargo que possuímos dentro de nosso ser: o ódio ou a raiva.
            Assim como na broa, é necessário transformar este produto tão indigesto em algum alimento saudável. Combinando este “leite azedo” que ninguém teria paladar ou o prazer de provar com o fubá da compreensão, com a farinha da tolerância, com a doce paciência, com os ovos do autoconhecimento, com a amanteigada humildade e com o pó do crescimento pessoal, você conseguirá levar para o forno da vida um delicioso lanche que depois de assado pelo calor da transformação estará no ponto de ser servido e saboreado. Não deixe que o calor do seu forno seja esfriado pelo gelado orgulho, pela fria vaidade e arrogância. Se isto acontecer sua broa murcha e fica parecendo mais uma sola de sapato que os coléricos usam muito mais para pisar no outro do que para nutrir-se.
            Sendo assim, quando seu leite azedar, faça uma broa e fique numa boa. Faça este prato, certo de que a pessoa que mais terá o prazer de nutrir-se e saborear este alimento será você mesmo, e não necessariamente, aquele ser acrimonioso que ajudou a azedar o seu leite. Saiba também que é muito bom podermos compartilhar com quem amamos o nosso doce sabor, pois não há quem aguente por muito tempo o nosso ranço azedo.

SOBREMESA




SENHORA DESCOBERTA




            Dolores estava vivendo uma terrível crise matrimonial. A crise resultou numa traição do marido, fato que jamais pudera imaginar. Nunca fora traída anteriormente. Num primeiro momento entrou em desespero total e assim descobriu o que vem a ser uma pessoa desesperada.  Lamentando o seu desespero, sendo totalmente tomada pelo mesmo e por sentimentos de ódio e intolerância, começou a provocar o marido com atitudes mesquinhas resultando disto a importante descoberta do que vem a ser uma pessoa mesquinha. Absorta em sua mesquinhez lamentava o dia inteiro o pequeno sentido de sua vida. Em meio a tudo isto o marido foi se afastando cada vez mais dela, passando assim a descobrir o que vem a ser uma pessoa solitária. Envolvida pela solidão lamentava o vazio que a devorava. Passou a ser alvo de fofocas e descobriu o que vem a ser uma pessoa perseguida. Atordoada pela perseguição, lamentava a sua dolorosa posição de vítima. Afastou-se, indiscriminadamente, de todas as pessoas acusando-as de traidoras e desfazendo com esta atitude importantes laços afetivos. Carente de elos de ligação começou a sentir-se fraca e impotente descobrindo desta forma o que vem a ser uma pessoa frágil. Tomada pela fraqueza lamentava a sua falta de força e vitalidade para dar volta por cima e sair inteira desta realidade. Querendo sair por cima não se permitia ter a importante humildade de simplesmente sair, seja por onde fosse. Lamentar era única coisa que sabia fazer com cada experiência que a vida lhe oferecia. Até Deus não saiu impune desta história. Em suas orações amaldiçoava o castigo que julgava não merecer, castigo este, imposto por ela mesma. Parecia, compulsivamente, desejar castigar-se e ao mundo a sua volta. A punição passou a ser a sua maior arma. No entanto, cada vez que apertava o gatilho da punição o tiro saía pela culatra; a vítima sempre acabava sendo ela própria.           
E assim, ela foi sendo tantas coisas... E em nenhum momento lhe agradou tudo isto. A falta de consciência que a dominava não lhe permitia enxergar as importantes descobertas que a vida lhe oferecia até que teve finalmente a benção de ter um sonho que a despertou para a vida. Sonhou que estava cega. Sua cegueira lhe permitia enxergar apenas as trevas. Sua moradia era uma caverna escura chamada buraco da lamentação. Solitária, foi finalmente visitada por uma fada que prometeu oferecer-lhe um colírio mágico que curaria a sua cegueira. Cada gota deste colírio lhe daria um pouco mais de visão. Se quisesse muita luz teria que pingar várias gotinhas desta sagrada medicação. No entanto, este presente não era gratuito. Cada gota tinha o seu preço. Dolores teria que oferecer algo em troca para a fada. Curiosa, perguntou o que deveria doar e a fada respondeu que cada gotinha exigia em troca um pedacinho de suas trevas. Louca para se ver livre da mesma aceitou sem pestanejar a proposta. Feito o acordo, a fada lhe levou até um rio onde deveria jogar cada pedaço de treva que obscurecia a sua visão. Foi solicitada que jogasse primeiro um pedacinho de sua raiva para que a correnteza pudesse levá-la para bem longe. E assim ela ofereceu um pequeno pedaço de sua raiva ganhando uma gotinha do colírio que lhe cedeu um pequeno pedaço de luz. Aquele pequeno pedaço de luz clareou bastante o seu mundo. Ficou encantada e pediu a fada mais um pouco de luz. A fada perguntou se poderia ceder-lhe um pequeno pedaço de seu orgulho. Jogou nas águas do rio um pedaço de seu orgulho e ganhou mais uma gotinha do colírio que clareou ainda mais a sua visão. Surpreendida por aquela luz fascinante que lhe proporcionava mais segurança e paz foi realizando inúmeras trocas que ampliavam e iluminavam cada vez mais o seu campo visual. Cedeu um pedaço de sua arrogância, de sua intolerância, de sua vaidade, de sua mágoa, enfim de todos os sentimentos negros que habitavam o seu ser. Dando um pouquinho de si, foi tomando consciência do que era ser uma pessoa iluminada. Foi então que desejou profundamente desapegar de suas vendas cedendo não só um pedacinho, mas sim, a porção inteira de cada sentimento negativo que lhe fazia sentir-se pequena e cega de si mesma e do paraíso que lhe rodeava. Agindo assim, o rio levou embora as trevas que lhe habitavam. Com os olhos curados, rodeada de beleza e luz, agradeceu a fada. Agradecimento era uma coisa que há muito tempo já não sabia mais fazer. Liberta de toda lamentação perguntou, finalmente, à mesma o nome daquele poderoso colírio. A fada entregou o frasco em suas mãos e lhe solicitou que usasse sem economia todas as vezes que fosse necessário. Tomando o colírio em suas mãos, leu em seu rótulo o nome do mesmo. Repetiu várias vezes o nome daquele poderoso medicamento para não correr o risco esquecê-lo. Finalmente acordou de seu sonho repetindo uma palavra que transformada em ação vira mágica e cura qualquer ferida: “PERDÃO”.
Mesmo em meio a seus desagrados, após este sonho, ela finalmente conseguiu despertar de um terrível pesadelo, acordar para a vida, largar mão de ser tudo aquilo que estava sendo para finalmente fazer a sua maior descoberta: “Ser ela mesma”.
Do remédio que a curou, Dolores jamais se desapegou. Em sua bula estava escrito que aquela poderosa medicação seria sempre uma boa indicação para pessoas que desejam se iluminar e tratar de suas dores com amor e não com revolta. O mais interessante deste medicamento é que não consta na bula contra-indicações e nem mesmo efeitos colaterais.
Para quem tem um pouquinho de Dolores dentro de si, o perdão está à venda em qualquer coração que deseja pulsar pela vida.




Um comentário:

  1. Sim!!! As vezes fico me perguntando porque nós seres humanos carregamos tanto lixo na nossa existência...desentendimentos, picuinhas, jogos de competição para medir poder, tudo isso mal resolvido acaba gerando uma guerra interna que que só pode gerar rompimento, afastamento, dor e doenças...Adorei a metáfora da cegueira e é assim que a maioria de nós vivemos quando não optamos por resignificar os nossos conflitos.E a pergunta que não quer se calar: Pra que tudo isso se existe o colírio do perdão?É um remedinho difícil e as vezes doloroso, mas doi bem menos do que se exercitar o perdão.Beijos Aída Mara

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